22.4.11

#restaurante: paraíso tropical, salvador (BA)

[Beto Pimentel, grande plano (foto R.S.), dá as boas-vindas (foto PSR/Rotas) no Paraíso Tropical (foto JMS) com seus famosos sucos espessos de frutas, que mais parecem sorvetes (fotos D.R.)]


A cozinha baiana é uma atração à parte para quem visita a Bahia em geral e Salvador em particular. Por norma, os baianos são conservadores no paladar e avessos a fusões gastronômicas, o que os leva a não se aventurarem com facilidade em novos sabores e texturas. Nos últimos anos, porém, o cenário vem mudando aos poucos e uma das coisas que não me passou desapercebida na minha última visita à capital baiana foi, precisamente, o trabalho desenvolvido por alguns chefs de primeira linha que, sem perderem de vista a matriz local, têm sabido inovar e agradar ao mesmo tempo, o que não é, convenhamos, tarefa fácil.


Entre eles, um nome se destaca: Beto Pimentel, à frente do Paraíso Tropical, várias vezes eleito como o melhor restaurante baiano da Bahia e do Brasil e o único brasileiro a ser agraciado pela Commanderie des Cordon Bleus de France (a mais prestigiada escola culinária do mundo). Para conhecer o restaurante, mas também a figura que é Beto Pimentel, desloquei-me de propósito ao bairro de Cabula, afastado do centro histórico de Salvador. Fora de mão e do circuito turístico, chegar até lá de táxi — não sou o primeiro a constatá-lo — não é fácil nem barato, mas não há praticamente músico ou estrela das novelas da Globo que não conheça o lugar.


Chamar "lugar" ao Paraíso Tropical é não fazer jus a sua grandeza. Na verdade, o restaurante é apenas a porta de entrada de uma considerável granja onde Pimentel, formado em agronomia, cultiva os frutos e as flores que depois usa na preparação dos pratos e na decoração do espaço. 


Com uma gargalhada que é sua marca registrada, Pimentel, desde logo, se revela um ótimo anfitrião e um contador incansável de piadas, muitas delas associadas ao fato de ter 23 filhos e de ter ficado viúvo quatro vezes.  Também não foi talhado para pressas. Nada mais justo, pois um almoço no Paraíso, que nos faz trocar a cidade pelo campo, é coisa para saborear sem pressas e sem olhar (muito) para o relôgio.

[Moqueca, grelhados e frutas no mel, carros-chefe do Paraíso Tropical (fotos D.R.)]
Quando ali estive, o espaço aberto passava ainda por algumas reformas, mas a idéia era que ficasse ainda mais colorido, confortável e informal. Rústico, mas com estilo próprio.  Para abrir o apetite, os sucos de frutas, famosos por apresentarem uma consistência de sorbet, são para comer à colher e não se esquecem facilmente (provei um de manga e não resisti a dar mais umas colheradas num outro de mangaba). Seguiu-se uma moqueca deliciosa e pude perceber nela parte das novidades que Pimentel tem vindo a incutir na cozinha regional. Para tornar suas moquecas mais leves, ele, por exemplo, usa água de coco em vez do leite e a flor do dendê em vez do óleo (muito mais pesado e indigesto). E há ainda os frutos verdes que acrescenta à receita, como seja o maturi (castanha de caju verde), a flor de vinagreira, a pitanga ou o biri-biri (também conhecido por limão-da-Índia). 


Só não comi mais porque queria ter ainda estômago para outro carro-chefe do Pimentel, que são seus grelhados de polvo, pescada amarela, camarão e lagosta, acompanhados, mais uma vez, de frutas grelhadas. E a expressão "os olhos também comem" ganha um outro sentido nesta hora.


Para encerrar o festim, existem algumas mousses, mas o mais comum é comer frutas grelhadas no mel ou ao natural. E ai de quem saia sem carregar numa sacola algumas dessas mesmas frutas que sobraram do almoço. 

Rua Edgar Loureiro, 98-B, Resgate (Cabula), Salvador, tel. (71) 3384 7464, aberto das 12.00 às 23.00, uma média de R$50-R$70 por pessoa

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