20.4.11

#gastronomia: belém, uma cidade que se devora

[No topo, da esq. para a dir.: açaí e poções caseiras no Mercado Ver-o-Peso; em cima, da esq. para a dir.:  mamões e venda de peixe no Mercado Ver-o-Peso, pato no tucupi do Lá em Casa (fotos JMS)]


Com hotéis à disposição, houve quem achasse quase excêntrico o meu desejo de ficar numa pousada, a Portas da Amazônia. Só que, para lá do charme inegável da mesma, muitos desconhecem que sua localização, junto à Catedral da Sé e em plena Cidade Velha, não só me permitiu passar rapidamente em revista curiosidades incontornáveis como a Casa das Onze Janelas ou o forte, como me deu um ensejo extra para levantar cedo e caminhar até à beira-rio, passando pela Avenida Portugal, e ao Mercado Ver-o-Peso.


Elevado à categoria de atração turística, o mercado, com uma estrutura de ferro importada da Inglaterra, é um algo a que não se fica indiferente. Começa a funcionar logo de madrugada, altura em que os barcos atracam carregados de peixe, mas também de frutas (como o açaí ou a castanha do Pará, também conhecida por castanha do Brasil) e um sem-número de ingredientes produzidos no interior do estado que, somados a raízes, essências, temperos, ervas, artesanato, comes e bebes, fazem dele um acontecimento diário.

[Fábio Sicilia (foto PSR/Rotas), do Dom Giuseppe; Thiago Castanho (foto D.R.), do Remanso do Peixe; e Daniela Martins (foto PSR/Rotas), do Lá em Casa]
Os mais famosos chefs do Brasil e não só, como Alex Atala (cujo restaurante D.O.M., em São Paulo, acaba de ascender à categoria de 7º melhor do mundo em 2011 segundo a revista Restaurant) ou o supra-sumo espanhol Ferran Adrià, renderam-se à variedade dos produtos amazônicos, mas o fato é que muitos deles são facilmente perecíveis e o transporte por avião, a única solução, os tornaria excessivamente onerosos. Assim sendo, quem acaba por tirar maior partido de todo este imenso maná natural são os chefs paraenses.


Acabo por eleger três exemplos que têm em comum a juventude, mas também o fato de estarem a perpetuar, e a aprimorar, um legado familiar. Falo de Thiago Castanho, apontado como a “revelação” de 2010, que coloca ao serviço do Remanso do Peixe uma cozinha de pesquisa de onde saem pratos como o pirarucu fumado com leite de coco, banana, ameixa e caju; mas também de Fábio Sicília, do Dom Giuseppe, eleito chef do ano em 2010 e presença habitual em programas de televisão local, que, com mestria, funde a técnica italiana com ingredientes amazônicos (como sua receita de peixe no tucupi); ou ainda de Daniela que, no Lá em Casa, dá continuidade às receitas criadas pelo seu pai, Paulo Martins (figura maior e grande divulgador da gastronomia amazônica, entretanto falecido). Aliás, foi no seu buffet de almoço que me deram a provar o famoso prato regional pato no tucupi que, entre outras coisas, leva o jambu. Conhecido por agrião do Pará, é semelhante a uma couve azeda, com a particularidade de possuir uma flor que, quando trincada, provoca uma certa dormência na boca.


Remanso do Peixe | Tr. Barão do Triunfo, 2590, casa 64 (Marco), tel. 3228 2477
Lá em Casa | Estação das Docas, tel. 3212 5588
Dom Giuseppe | Av. Cons. Furtado, 1420 (Batista Campos), tel. 4008 0001

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