29.1.12

#roteiro rápido: um sábado (mas também pode ser outro dia) relax na fradique coutinho, vila madá (SP)

[Grafite da Vila Madá (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Eu sei.

Antes mesmo de lerem o resto, muitos já vão me condenar só pelo título deste post. Sábado relax, na Vila Madalena?!?!

Concedo que, assim de primeira, não é uma evidência mesmo. O mapa da mina de Vila Madá há muito que foi descoberto e o bairro boêmio e artístico (não, eu jamais vou aderir a essa modinha infame de escrever "artsy" para parecer cool) é agora uma quase unanimidade, o que, claro, tem seu preço...

[Um dos parques da Vila Madá, só para provar que a vida continua bucôlica por ali (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

... sobretudo na hora de achar uma vaga para o carro ou de conseguir uma mesa...

Mas não é impossível. Longe disso.


Umas das ruas que mais gosto de percorrer, de frente para trás, de trás para a frente, é a Fradique Coutinho. 

São várias as opções por ali e muitas as combinações possíveis, mas um sábado relax, para mim, virou sinônimo de três rituais bem simples.

[Balcão do AK/Vila (©joão miguel simões todos os direitos reservados)]

#1 Um almoço tardio e preguiçoso no Ak/Vila, da chef Andrea Kaufman, que inaugurou o ano retrasado. Eleito logo de caras como o melhor de São Paulo em 2011/12, na categoria "variado", pela edição "Comer & Beber" da Veja, o Ak/Vila é charmoso sem ser pretensioso, tem uma clientela classuda e um custo-benefício razoável para a média paulistana.

[O AK Burger (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O cardápio é rotativo e tem várias coisas boas, mas, confesso, eu vou ali mesmo é para me regalar com o Ak Burger, que leva queijo brie, pastrami de língua, cogumelos e cebola grelhada (vários acompanhamentos, mas eu vou mesmo de batatas rústicas). Delicinha!

[A torta do AK/Vila (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Na sobremesa, fico na dúvida cruel: como ou não? Quando eu chegar ao ritual #2 vão perceber porquê... Mas, o mais certo é não resistir mesmo à pecaminosa (de tão boa) torta de musse com caramelo salgado. 

[A Feira Moderna (foto de divulgação)]

#2 A dúvida tem uma razão bem simples de explicar: é que justo na porta ao lado do AK fica a Feira Moderna, o único lugar em São Paulo (que eu saiba) onde se vende sorvete da Cairu!

[A Feira Moderna (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Já falei aqui da Cairu, que descobri em Belém do Pará, e não é segredo que sou fissurado em seus sorvetes. Claro, a oferta é mais limitada na Feira Moderna (há açaí, tapioca, muruci, carimbó, doce de leite...), mas já está valendo.

[A Feira Moderna (foto de divulgação)]

O café da Feira Moderna, o Astro comandado por dona Neuza, também serve comidinhas, mas nunca provei. Para mim, além dos sorvetes, a pedida é mesmo a loja, onde encontro objetos, vestuário e calçado procedentes de várias regiões do Brasil e do mundo, executados com primor pela dona, a Suely Galdino, e por artesãos e artistas de mão cheia.

[A fachada do casarão que abriga o Coffee Lab (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

#3 Já deu para reparar que ainda não fiz uma única menção à palavra "café"? 

[Jeitinho de quintal da vó, não? (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Pois, foi de propósito.

[Os detalhes fazem a diferença, como o São Benedito e sua xícara diária de café (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É que, por mais voltas que eu dê na Fradique Coutinho, café eu só tomo num lugar: Coffee Lab.

[Coffee Lab (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Comecei a frequentar o Coffee Lab bem na época em que ele foi eleito o melhor café de São Paulo pelo júri da edição "Comer & Beber 2011/12" e logo se notou um acréscimo do movimento de curiosos e aficionados.

[O café expresso (R$4) degustado numa xícara maior (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Projeto de Isabela Raposeiras, a barista brasileira do momento que teve seu blog agregado à página da folha.com (não é para todos), o Coffee Lab é um laboratório de torra, degustação e preparação de cafés e isso, meus caros, faz toda a diferença.

[Também não faltam comidinhas como o Tostex, feito em pão de brioche, com queijo de Minas a R$9 (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

O lugar não é grande, mas tem jeito de sala de estar, super informal, acoplada à cozinha onde os baristas, de macacão cinza, recebem os pedidos, explicam cada coisa com a maior das boas vontades e preparam tudo, à vista de todos, na hora.

[O aeropress, um café coado sob pressão a R$6 (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Raposeiras trabalha com micro-lotes de café e pratica uma abordagem eco-social, o que equivale a dizer que não usam canudos nas bebidas (por serem fabricados com petróleo), não vendem garrafas de água (água filtrada à disposição e sem custos) e reciclam o vidro, só para dar alguns exemplos.

[O Shakeratto (R$7), café gelado misturado com água gaseificada, ótimo nos dias de calor (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

E não é muita frescura só para beber um café?

[Frapê de Cappuccino, que leva ameixa seca como emulsificante natural (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não acho. Para mais, à lista de cafés (podem ser pedidos à la carte ou apreciados em cinco rituais de degustação e harmonização, todos a R$5, para aprender a perceber as diferenças) somam-se ainda umas quantas comidinhas bem saborosas como o tostex de queijo de minas, o biscoito de polvilho com cream cheese temperado com flor de sal, o brigadeiro de café ou o sagu de café com creme de baunilha.

E para um sábado relax está de bom tamanho, certo?  

27.1.12

#gastronomia: à conversa com vítor sobral, seis meses passados sobre a abertura da tasca da esquina (SP)

[O brinde de Sobral e parte de sua equipe na festa de abertura da Tasca (acervo pessoal)


E já passaram seis meses.


[Sobral, fotografado à porta da Tasca da Esquina (foto de divulgação)]

Antes disso, já eu falava aqui da Tasca da Esquina e tentava trocar por miúdos — para usar uma expressão bem lusa — o parentesco próximo das tascas e tabernas portuguesas com os botequins brasileiros...

[A sala que fica logo à entrada, junto à cozinha (©luna garcia)]

Mas os tempos são outros. Os botecos passaram de pés-sujos a pés-limpos e as tascas e tabernas de toscas têm agora muito pouco ou nada. 

[A "segunda" sala  (©luna garcia)] 

Pelo contrário, são lugares agradáveis à vista, não tão baratos assim e com chefs que se preocupam, sem perder o foco, em dar à cozinha popular e aos petiscos um tratamento mais autoral, tornando-os também, pelo uso da técnica, mais leves e adaptados aos tempos (e paladares) de hoje.

[As pimentas na horta vertical, que usa madeira de demolição (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Quando ali estive pela primeira vez, acho que bem no começo de outubro do ano retrasado, logo de caras gostei da localização (um casarão que não fica numa esquina da Itu, mas quase) e das soluções adotadas pela decoradora portuguesa Paula Moura para encontrar um meio termo entre a essência da matriz lisboeta e a necessidade de afirmação da filial paulistana.

[Papel pardo nas mesas e poltronas de couro verde, tal como em Lisboa (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Por um lado, reconheci as poltronas de couro verde-azeitona, a cozinha à vista, o papel pardo a fazer as vezes de toalha, as caixinhas de madeira em miniatura usadas para o pão e um ou outro rosto familiar que transitou de Lisboa para São Paulo — uma das coisas de que Sobral mais se orgulha é a de ter uma equipe coesa e afinada que, na sua maioria, já o acompanha há 16, 17 anos.

Por outro lado, tive de me acostumar àquela nova "geografia" em "L" (ainda que contíguas, acabam por ser duas salas, com uma terceira, mais pequena e apenas para grupos até 12 pessoas, no andar de cima), mas o toque brasileiro da madeira de demolição, os tijolos aparentes e a horta vertical depressa me fizeram sentir numa casa longe de casa.

Desde então, estive ali mais vezes, mas, curiosamente, sempre ao almoço e em alturas que coincidiram com a passagem de Sobral por São Paulo — a base do chef continua sendo em Lisboa, onde terá inclusive, a partir de Fevereiro, uma nova escola de gastronomia, mas, vira e mexe, vem até São Paulo para acompanhar tudo de perto e realizar jantares temáticos.

[Lascas de bacalhau com batatas e ovo (©luna garcia)]

Na verdade, há anos que Sobral vive dividido entre Portugal e o Brasil, mas agora é diferente. Nestes últimos meses, ele tornou-se o primeiro o chef português a abrir uma filial de um restaurante português em solo brasileiro. O fato não passou ao lado da revista portuguesa "Wine-A Essência do Vinho", que elegeu Sobral como "Personalidade do Ano na Gastronomia" em 2011. 

"70% de tudo o que consumimos na Tasca de São Paulo vem de Portugal. O azeite é todo português [Andorinha, Edição Limitada de 2011], o arroz é todo português, o sal também... O papel higiênico é Renova, os tachos são Silampos, a porcelana e os talheres da Vista Alegre...", enumera Sobral, que, num futuro próximo, quer levar seu empreendedorismo mais longe e ter a sua própria importadora.

Do mesmo modo que muitos dos chefs brasileiros se queixam da falta de apoio e incentivo do governo para dar maior visibilidade no exterior à gastronomia brasileira, também Sobral acusa o fato de estar praticamente sozinho em sua empreitada de levar um pouco da nova gastronomia portuguesa para o Brasil.

[As lulas salteadas com palmito, um petisco (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Sem sócios brasileiros, Sobral não poderia ter aberto a Tasca da Esquina em São Paulo — por falar nisso, a tasca acaba de ganhar um novo sócio de peso, o empresário Gustavo Mello de Almeida. Nisso ele é peremptório, mas também o foi quando, logo no começo, demarcou seu território e deixou bem claro que vinha para demonstrar aos brasileiros que cozinha portuguesa é muito mais do que só bacalhau.

[O Bacalhau ao Forno (©luna garcia)]

Esse era, aliás, meu maior receio, que Sobral acabasse cedendo ao "mercado" e que viesse para o Brasil fazer mais do mesmo. Mas bastou bater o olho nos cardápios — de petiscos, pratos e bebidas — para suspirar de alívio... 

[O cardápio (clique na foto para ver maior)]

"Muitos dos clientes brasileiros que vêm à Tasca da Esquina — e alguns chegam a vir mais de uma vez na mesma semana — já estiveram na Tasca de Lisboa e estão ávidos de provar tudo", conta Sobral. Um dos melhores elogios veio precisamente de uma cliente que chegou junto a si e lhe disse: "Comi raia em Lisboa e a daqui estava igual!"


[O pão em suas típicas caixas de madeira e o ambiente ao almoço (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Por acaso, a raia cozida em azeite (R$56) foi um dos pratos que também provei, mas não é dos meus preferidos. 

[Um pedaço de pão e azeitonas temperadas (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Aliás, na Tasca, eu gosto sobretudo dos petiscos — à chegada, já sou feliz com o pão, as azeitonas temperadas e o queijo de mistura, seguindo depois para os bolinhos de bacalhau (da primeira vez estavam sequinhos, mas um pouco salgados) e para os embutidos portugueses (gosto de tudo, da morcela com maçã à alheira corada e farinheira com favas; pena que não venham de Portugal, mas Sobral assegurou-me que, até ver, sua importação é inviável...).

[O bolinho de bacalhau (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Nos pratos, e dependendo da saudade de casa, eu acabo preferindo os do dia mesmo, com possibilidade de me regalar com uma porção de bacalhau com natas (à 6ª, R$42) ou de filetes de peixe com arroz de tomate (à 3ª, R$42). Comida com nome e gosto de casa.

[Prato do dia à 6ª: bacalhau com natas (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

No capítulo das sobremesas, gosto das farófias (claras cozidas em leite perfumado, parecem nuvens que se desfazem na boca, R$12), servidas em potinhos, do pudim Abade de Priscos (nesta versão da Tasca leva molho de maracujá e biscoito crocante, R$15) e, claro, do Creme Queimado (R$12,50).

[O Pudim Abade de Priscos com molho de maracujá (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Mas isto sou eu. Passados seis meses, Sobral já tem noção do que resulta e não resulta em São Paulo: "Os petiscos estão a ser um sucesso e com o bacalhau tudo resulta. Mas o requeijão não funcionou [o requeijão português é obtido a partir do soro do leite e nada tem a ver com a versão cremosa brasileira), o prego e a alhada de camarão também não [em vez de contrafilé, tida ainda como carne de "segunda" no Brasil, o prego usa filé mignon no pão]".

[O Creme Queimado, outra sobremesa da Tasca (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

E os ingredientes, há diferenças? "Por norma, tudo aqui tem muito mais água, o que acaba por se refletir no gosto das coisas. Mas resolvo isso com alguns truques simples, secando a batata, por exemplo, ou assando o tomate", confidencia Sobral, que recusa "abrasileirar" seu sotaque luso para se fazer entender mais facilmente no Brasil mas não tem o menor problema em harmonizar certos pratos de seu cardápio com ingredientes daqui, "como a mandioquinha ou o quiabo", que muito aprecia.

[As farófias, claras cozidas em leite perfumado, vêm em potinhos e pedem um bom Porto (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]


Outro quesito importante numa tasca que se preze é o dos vinhos. O Brasil está, de um modo geral caro, mas poucas coisas me chocam tanto quanto o preço exorbitante dos vinhos importados (exceção feita aos chilenos e argentinos, mais em conta por não serem tão taxados). 


[O café, expresso, em vez de biscoitinhos ou trufas vem acompanhado de um shot de arroz doce com canela (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)] 


Minto. Choca-me ainda mais ver como muitos brasileiros não estão nem ai para o preço e pagam, sem pestanejar, o triplo ou mais do seu valor real no país de origem  — dou um exemplo: uma leitora carioca, fã dos vinhos verdes portugueses, queria uma dica e eu indiquei o Muros Antigos, excelente custo-benefício, bem cotado inclusive pelos críticos em 2011, que em Portugal custa aproximadamente R$11. Pois, numa loja de vinhos do Rio o mesmo vinho é vendido por praticamente R$50! E não é dos piores.

[O espumante Luís Pato rosé costuma ser servido à chegada (©joão miguel simões, todos os os  direitos reservados)]

Na Tasca, Sobral dá grande preferência aos vinhos e espumantes portugueses, servidos à taça ou à garrafa, e tem tido a preocupação de os manter numa faixa de preços bastante aceitável para os padrões de São Paulo. Até porque a Tasca acaba sendo uma vitrine para muitos produtores de vinhos portugueses e uma forma dos brasileiros se aventuraram a degustar novos rótulos.

[A adega da Tasca paulistana (©luna garcia)]

Como português, de quando em vez voluntariamente expatriado no Brasil, posso até ser suspeito, mas agrada-me a ideia de saber que há uma tasca, numa quase esquina de São Paulo, onde conforto não tem sido sinônimo de acomodação.


Alameda Itu, 225, Jardins, São Paulo, tel. (0)11 3262-0033, de ter. a sáb., almoços entre as 12.00 e as 15.00 e jantares entre as 19.00 e as 00.00; ao dom., entre as 12.00 e as 16.00. Além das opções "Há Lá Carta", existem quatro degustações, ao critério do chef, entre R$78,50 e R$135 por pessoa

23.1.12

#comidinhas: o picadinho do astor ipanema (RJ)

[O Picadinho Astor, prato emblemático da casa (direitos reservados)]


Não, não vou apresentar o Astor-versão-carioca. Já todos ouviram falar, não é mesmo?

Só que eu não conhecia e ai, numa passagem vapt-vupt pela "Cidade-Maravilhosa", nem pensei duas vezes. Munido da dica certa, já fui logo adiantando no táxi para entrar pela avenida Rainha Elizabeth — o Astor fica na esquina desta avenida com a Vieira Souto, num recanto que já foi, para quem se lembra, do Barril 1800.

Localização de luxo de frente para o mar, com o DNA de Ipanema bem marcado, mas, ainda assim, meio que tomei um susto à chegada. Não sei bem porquê, eu tinha imaginado algo um pouco diferente...

[O de são Paulo é mais urbano, o do Rio mais despojado e informal (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Esclareço: o erro não está no Astor-versão-carioca, eu é que, vá-se lá saber porquê, ia com uma expectativa diferente. Para começar, acho que esperava um lugar mais intimista, mais aconchegante e a verdade é que este Astor é grande, com vários ambientes, música de fundo e um constante burburinho.

Mas, concedo, o Astor tem a cara e o jeito do Rio. O de São Paulo é mais urbano; este mais despojado e informal como a própria cidade. Na melhor tradição moderna pé-limpo, é um bar que revisita, com a devida liberdade poética e estética, os antigos botequins pé-sujo da boêmia carioca no que eles tinham de mais interessante: petiscos e bate-papo.

Fotos em preto e branco, cartazes coloridos, azulejos hidraúlicos, bancos de couro vermelho e mesas de madeira, luminárias amarelas dispostas em buquê, vidraças entre prateleiras que permitem ver o que se passa na rua... enfim, uma toada assumidamente retrô que, a julgar pela casa cheia num dia de semana, agrada em cheio.

[A caipirinha de maracujá (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Mas, tal como a matriz paulistana, este Astor-versão-carioca é coisa para bico fino. A lista de petiscos, pratos e bebidas é farta, bem bolada (exceção feita às cervejas, com pouca escolha), mas está longe de ser em conta. Aliás, como vem acontecendo um pouco por todo o lado. Sei que não estou dando nenhuma novidade, mas o Brasil, visto pelos olhos de um "estrangeiro", está muito caro. Muito.

E é nesse quesito que o Astor me deixou maiores reticências. Sim, é um bar bacana, um ponto ótimo e gostoso para se estar entre amigos, mas achei demasiado caro para a sua proposta.

[O famoso Picadinho Astor tal como me chegou à mesa (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Comi o Picadinho (R$38) — um dos pratos mais emblemáticos da casa com filé mignon picado na faca, ovo poché, banana à milanesa, arroz e farofa com caldo de feijão servido à parte — e bebi uma caipirinha de maracujá (R$18, com cachaça Nêga Fulô) e um chopp claro (R$4,10). Só. E deu um total de pouco mais de R$60.


[Entre os vários ambientes, o recanto mais "lounge" do Astor (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Termino com o serviço. Sem demoras, reconheço, mas não pude deixar de me lembrar das críticas que continuo ouvindo sobre serviço, em geral, no Rio. Na hora de me servir o picadinho, o empregado simplesmente jogou, displicentemente, o prato na mesa.


É o tipo de coisa que até desculpo, mas que jamais me passará ao lado. E precisa ser corrigida, rápido, no Rio pré-Copa-e-olímpico.


[A extensão al fresco do Astor, em plena Vieira Souto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


O cardápio completo do Astor pode ser consultado aqui, mas, entretanto, fiquei sabendo que há novidades no mesmo e que nas tardes de sexta é servido, já em ritmo de fim de semana, um almoço boêmio.


Av. Vieira Souto, 110, Ipanema (RJ), tel. 21 2523-0085, de seg. a qua., entre as 18.00 e as 01.00; à qui., entre as 18.00 e as 02.00; à sex. e sáb., entre as 12.00 e as 03.00; ao dom., entre as 12.00 e as 22.00

22.1.12

#roteiro rápido: de manguinhos à orla bardot, em búzios (RJ)

[Abertura da reportagem de Búzios, na edição de fevereiro da "Volta ao Mundo" (direitos reservados)]

Vou aproveitar que a minha reportagem de Búzios, produzida (com fotos do Fran Parente) para a edição de fevereiro da revista portuguesa de viagens "Volta ao Mundo" (ela chega ao Brasil com algum atraso, mas agora já está disponível em e-paper para quem se converteu a ler na tela do laptop, do celular ou do iPad), está quase, quase chegando às bancas para pegar uma carona e compartilhar com os leitores do blog mais algumas dicas.

Conclui uma coisa nesta minha última passagem por Búzios: por melhor que se esteja nas pousadas ou hotéis mais afastados, cedo ou tarde vai chegar o momento em que o desejo de ir à cidade falará mais alto, concordam? 

Entre outras coisas, porque é ali que está concentrada a maior oferta de boas lojas e restaurantes. Apesar de “mignon”, o centro de Búzios, com destaque para a Orla Bardot e a rua das Pedras, dispõe de um muito razoável contigente de restaurantes afamados como o Sawasdee, o Satyricon ou o Bar do Zé. 

Este último, fato curioso quando não é mais uma novidade, leva alguns ao engano por conta do nome. Na verdade, o que começou por ser uma modesta barraca de praia, onde se vendiam sanduíches, cresceu e virou, sem perder o jeito havaiano, uma casa charmosa e não-tão-barata-assim. 

[A cumplicidade de Soledad com o chef do Bar do Zé (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

À frente do endereço, o empresário-surfista Zé (cujo verdadeiro nome é Estevão), um tipo boa pinta, e sua mãe, a chilena Soledad Garreton, também ela uma antiga surfista. 

O surf está, aliás, nos genes desta família, pois Soledad conheceu seu marido, o médico João Batista Figueira de Mello, quando ambos surfavam na praia de Geribá e uns tempos depois, em 1969, fizeram questão de se casar na praia dos Ossos. 

Boa, a estória, não? Nem que fosse só para a ouvir, já valia a ida ao Bar do Zé — a comida, achei um pouco pesada, ainda que saborosa, mas o ambiente à noite, com as velas acesas, é um charme.

[O mangue de Porto da Barra (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Nos últimos tempos, porém, e contrariando a hegemonização do eixo Orla Bardot-rua das Pedras, surgiu um novo polo gastronômico em Porto da Barra, também conhecido por Manguinhos devido ao mangue que preserva até hoje. 

[O mangue foi incorporado nos ambientes do Quadruci (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Sempre que se fala de novidades, os mais conservadores tendem a torcer o nariz e demoram a mudar velhos hábitos. Certo é que, descontada a distância (de táxi, a partir do centro, dá uns R$15-18), o polo de Manguinhos, com 11 restaurantes e espaço de sobra para galerias e lojas, tem seu encanto. Sério, achei mesmo.

[O lounge al fresco do Quadrucci (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Aberto para o mar, com resquícios de um antigo porto ligado ao tráfico de escravos, Manguinhos pode nunca ter convencido como praia (o mar mais nervosinho é bom para a prática de kite e windsurf), mas enquanto colônia piscatória, com o mercadão de peixe mais tradicional da cidade, vingou. 

[Grandes janelões permitem não perder o cenário quando se está no Quadrucci (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]
 
Por isso mesmo, e até ver, imperou o bom senso de manter, lado a lado, essas duas realidades. Casas de primeira linha, como o Zuza, o Hedonista ou o Anexo, contam-se entre as pioneiras que apostam suas fichas neste centro de animação praiano, mas, sem dúvida, é a filial do restaurante carioca Quadrucci quem mais dá no olho. 

[Linda a vista, não? (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Uma passarela de madeira, suspensa sobre o mangue, dá acesso ao restaurante, projetado como uma caixa de vidro pela arquiteta Bel Lobo, que incorporou algumas árvores em seu décor e se divide em vários ambientes que, consoante a hora do dia ou da noite, mudam de personalidade.

[O polvo grelhado com arroz do Quadrucci (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


Cientes de que a concorrência é feroz, os sócios Mário Fonseca, Eduardo Bellizzi e Eduardo Sidi não se pouparam a esforços para dar um twist brasileiro à cozinha italiana que lhes serve, desde sempre, de base, mas têm bem claro que o Quadruci-versão-Búzios funciona também como um clube de praia e daí a aposta em drinques espirituosos como as caipilés. 

[Lulas, camarões, polvo e demais frutos do mar, um prato que sai muito no Quadrucci (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]


E o que são caipilés? Simples, são caipirinhas que misturam frutas como o morango ou a uva com picolés como explica, divertida, Sheila Carvalho, a relações públicas do Quadruci que morou em Portugal e recebe os clientes da “terrinha” com um brilhozinho nos grandes olhos azuis. 

Este verão será decisivo para valiar até que ponto Manguinhos é uma alternativa credível ao centro; capaz inclusive de disputar, mano a mano, os mais baladeiros. Quem viver, verá.

Quadrucci | Porto da Barra (Manguinhos), Búzios, tel. 22 2623-6303
Bar do Zé | Rua José Bento Ribeiro Dantas, 382, Búzios, tel. 22 2623-4986
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