23.8.11

#gastronomia: diretos de portugal, vítor sobral em são paulo e joachim koerper no rio

[Fachada da Tasca da Esquina em São Paulo, na Alameda Itu (fotos de divulgação)]

Falei aqui de Vítor Sobral e da Tasca da Esquina mesmo antes da abertura da casa, na Alameda Itu, em São Paulo, no passado mês de Julho.

Não tive ainda a oportunidade de passar por lá, mas não escondo que estou curioso para ver até que ponto os paulistanos estão ou não aderindo à proposta de um cardápio que é suposto dar especial destaque aos petiscos e pratos portugueses. E também algo receoso, confesso.

Não por Vítor Sobral, que é um chef muito experiente, com provas dadas em Portugal e também no Brasil — que freqüenta há mais de 15 anos e cuja influência ele acusa, sem o menor problema, em sua cozinha de raiz tipicamente lusa. A minha dúvida tem mais a ver com um fato que observo faz anos: por regra, os restaurantes ditos portugueses no Brasil tendem, com o tempo, a se abrasileirar excessivamente com medo de não agradarem ao palato nacional.

[À semelhança da casa-mãe em Lisboa, a Tasca paulistana deixa a cozinha à vista dos comensais (foto de divulgação)]

O que é, a meu ver, uma pena. A gastronomia atual praticada em Portugal merece ser mais conhecida e apreciada no Brasil.

Em sua versão lisboeta, a Tasca da Esquina de Vítor Sobral, com dois anos de existência, tem-se revelado um sucesso de público e até mesmo a crítica especializada — que não deixou passar em branco a passagem de Sobral da alta gastronomia para uma cozinha mais "comercial" — lhe reconhece competência e saber-fazer na forma como "redesenhou" petiscos e pratos do receituário popular de Portugal.

[Na arquitetura da portuguesa Paula Moura, destaque para a horta vertical (foto de divulgação)]

Já li em diversos meios, e até mesmo no release de lançamento da Tasca em São Paulo, que Sobral quer, no dia a dia da casa paulistana, "acrescentar a riqueza dos produtos brasileiros às raízes de pratos portugueses"; do mesmo modo admite que "na elaboração do cardápio não foi colocado de parte o respeito pelos produtos nativos, regionais e costumes dos brasileiros, e uma houve uma atenção especial à exigência do público paulistano".

Pois eu só espero que isso não signifique que a Tasca vá jogar apenas pelo seguro, não se arriscando em dar a provar aquilo que realmente ali faz sentido. 

[Vários planos da Tasca da Esquina lisboeta, com o pão servido em caixinhas de madeira, o vôngole servido no tacho e outros petiscos como as tostas de porco preto e a farinheira com favas (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Porque, se devidamente informados e seduzidos, os paulistanos podem, sim, apreciar a cozinha da Tasca tal qual ela é. Tive a prova dias atrás, em que levei amigos paulistas à Tasca de Lisboa e o que eles quiseram precisamente degustar foram os petiscos, com destaque para os embutidos pouco comuns no Brasil como a farinheira, a morcela, a carne de porco preto (também conhecido por porco ibérico, que se alimenta só de bolotas) ou ainda outros frutos do mar como os berbigões (vôngole) no tacho.

Oxalá Sobral não se desvie de sua proposta inicial: oxalá seus sócios brasileiros, da 1900 Pizzeria  e do restaurante Sagrado e Consagrado, respeitem sua visão de autor. No resto, sei que a arquitetura do espaço nos Jardins, da portuguesa Paula Moura, é bem conseguida — não fica numa esquina, como em Lisboa, mas está numa casa muito simpática e possui uma horta vertical —, que se preservou a idéia de dar a ver o que se passa na cozinha e que na carta de vinhos se privilegia também a venda à taça com um bom custo-benefício e a garantia de que as garrafas abertas estarão sempre devidamente acondicionadas para não se perder a qualidade.

Aliás, o capítulo vinhos é outro que me inspira esperança. Sei que os vinhos portugueses chegam em pouca quantidade e a preços exorbitantes ao Brasil, por conta das taxas. Mas encontrem os produtores portugueses maneiras de os fazer entrar com um custo menor e terão, não tenho dúvidas, uma grande aceitação. 

E mais não digo. A próxima vez que escrever sobre a Tasca da Esquina será já depois de ter lá ido. Fica prometido.

[O chef alemão Joachim Koerper, ao centro, em sua cozinha lisboeta (foto com direitos reservados)]

Entretanto, não posso deixar de dar outra notícia, já confirmada: o chef alemão Joachim Koerper, mas há largos anos instalado em Lisboa e casado em segundas núpcias com a brasileira Cíntia Paiva Koerper, vai assumir, a partir de Setembro, o já existente restaurante Enotria, na Barra da Tijuca (CasaShopping), Rio de Janeiro.


[Joachim Koerper fotografado na sala do Eleven, de que é sócio em Lisboa (foto com direitos reservados)]


Koerper, que deu recentemente uma entrevista rara ao suplemento de sábado de um diário português, tem passado por alguns constrangimentos no passado ano, altura em perdeu a estrela Michelin conquistada para o restaurante lisboeta Eleven — de que é um dos sócios, e onde manterá sua base mesmo com o projeto no Rio — e que tem sido alvo de algumas críticas menos positivas. 


[No Rio, Koerper vai assumir o Enotria, que se passará a chamar Enotria por Joachim Koerper (foto com direitos reservados)]


De todo o jeito, é um homem muito respeitado por seu percurso consistente e quem o conhece bem não tem dúvidas de que, com algumas mudanças necessárias — para já, o seu chef executivo Gonçalo Costa saiu e deve vir também para o Brasil, num projeto a anunciar em São Paulo  —, será capaz de virar o jogo novamente em seu favor.


Por agora não se sabe muito mais sobre a Enotria por Joachim Koerper, que, segundo avançado no Blog Sabor, pela Alexandra Forbes, tem ainda planos para abrir em breve um segundo restaurante no Brasil, mas desta feita de raiz, que se chamará A Cozinha de JK.


Tasca da Esquina | Alameda Itu, 225, Jardins, São Paulo, tel. (0)11 3262-0033, de ter. a sáb., almoços entre as 12.00 e as 15.00 e jantares entre as 19.00 e as 00.00; ao dom., entre as 12.00 e as 16.00

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