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[Alex Atala durante uma demonstração, em Lisboa, apresentado as raízes da priprioca (©mesa marcada); abaixo: close das raízes (foto com direitos reservados)] |

Nem sempre é muito justo destacar apenas um nome quando os contributos, válidos para mais, chegam de muitos lados, mas ninguém levará a mal se eu disser que o chef Alex Atala, mais do que todos os outros, tem desempenhado, dentro mas sobretudo fora do país, um papel fundamental em todo este processo de levantamento, experimentação e divulgação do potencial amazônico a favor da cozinha contemporânea brasileira.

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[Maturis no pé, ou seja castanhas de caju verdes (foto com direitos reservados)] |
Muitos brasileiros não conhecem a cagaita — pude comprová-lo quando, deliciado pela descoberta desse sabor através dos sorvetes goianos Frutos do Cerrado, falei a vários amigos e a maioria ficou à toa —, o que dirão os gringos para quem uma pitanga ou uma acerola já são para lá de exóticas.
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[Uma cagaita madura, pouco maior do que a moeda de R$1 (foto com direitos reservados)] |
Como sempre digo, uma coisa leva a outra. O Brasil está na ordem no dia, mas não é só sua economia que está emergente. Nunca como agora a cozinha brasileira, muito por conta do trabalho de regaste dos ingredientes regionais desenvolvido por Atala e por outros virtuosos como Ana Beatriz Trajano (do Brasil a Gosto) ou Mara Salles (do Tordesilhas), despertou tamanho entusiasmo. Uma prova? Será um dos países-tema, juntamente com o México e o Peru, do Gastronomika, um importante congresso gastronômico do País Basco espanhol, agendado para o próximo mês de Novembro e no qual prevê-se a presença de vários chefs-top do Brasil.
Que a pretexto de tudo isto que está acontecendo, sejam cada vez mais os brasileiros (e não só) tentados a saber mais sobre seus produtos. Como português, reconheço na herança que deixámos aos brasileiros essa tendência para buscar sempre a aprovação de fora e para, muitas vezes, só darmos valor ao que é nosso quando os outros aprovam.
Mais do que apenas saber reconhecer a cagaita, ideal para sucos e sorvetes, importa também descobrir que sua árvore ostenta uma belíssima floração branca (como flocos de algodão) nos meses de Agosto e Setembro, enfeitando a paisagem do cerrado brasileiro. Ou que a priprioca, mais uma planta amazônica de cujas raízes extrai-se um potente aroma idêntico ao patchouli, é um agente aromatizador que está fazendo furor e que Alex Atala, sempre ele, não se cansa de divulgar fora do Brasil — ainda em Maio fez questão de apresentar a raiz num evento gastronómico em Lisboa que tinha o peixe por principal mote.
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[Pudim de leite, ravióli de limão e banana ouro, uma das sobremesas de Atala que levam o aroma de priprioca (foto com direitos reservados)] |
Sobre a priprioca, que pode ser encontrada em algumas barraquinhas especializadas de São Paulo, importa dizer que seu aroma, como Atala admite, também lembra um pouco a maconha, mas na cozinha, sobretudo em sobremesas, ela faz as vezes da baunilha. Ou seja, uma tremenda viagem sensorial.
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