30.5.11

#novidades de comer: o que são paulo (SP) ganhou faz pouco tempo

[Chef Renata Cruz, do Amici, agora como novo endereço em Itaim Bibi (foto de divulgação)]
Amici
Provei, pela primeira vez, a comida da Renata Cruz de forma inesperada. Poderia mesmo dizer inusitada. Foi em 2010, a bordo de um avião da TAM, numa época em que a jovem chef brasileira assumia a responsabilidade de criar menus para os voos internos da companhia sem defraudar sua filosofia de "comfort food" (cara e gosto de comida caseira, mas com toque de chef). 
É muito raro ficar impressionado com comida de avião, mesmo a servida em classe executiva, o que dirá em econômica... mas, o certo, é que aquela me fez registrar seu nome.
Mais tarde, ouvi boas críticas ao seu restaurante de São Paulo, o Amici, precisamente por conseguir praticar uma cozinha acessível, saborosa e ideal para todos os dias. Não cheguei a ir em seu primeiro endereço, na Chácara Santo Antônio, uma pena. 
De todas as maneiras, o Amici ganhou, desde ontem (abriu uns dias antes em soft opening), uma nova casa no bairro chic de Itaim Bibi. Diz quem já viu que, instalado num sobrado de 350 metros quadrados e dois andares, este Amici-fase 2 mantém o ar familiar e, mais importante, seu cardápio (servido em bufê, com saladas e pratos quentes, e à la carte, com opções de carne, peixe, massas, risottos e sobremesas como o brigadeiro de colher). Para a minha lista "estou curioso".
Rua Aracari, 200, Itaim Bibi, tel. (11) 5641-9119, de seg. a sex., entre as 12.00  e as 15.30, aos sáb., entre as 13.00 e as 17.00


Clandestino
[Chef Bel Coelho durante um jantar-degustação no Clandestino (foto direitos reservados)]

Em rigor, não é uma novidade absoluta; é mais um regresso celebrado. Bel Coelho é sempre muito falada, e não só pela cozinha, tendo retomado, desde o dia 28 de Abril, seu projeto de degustação no segundo piso do restaurante Dui. Sempre às quintas-feiras, e ao jantar (é preciso reservar), ela recebe até 30 pessoas que, por R$195 (mais R$140 se quiser harmonizar os pratos com vinhos), embarcam numa aventura gastronômica autoral em 13 etapas. Não é barato, não é para todos, mas, quem já foi, garante que não se esquece facilmente. Entra para a minha lista "quero muito ir".
Alameda Franca, 1590, Jardins, tel. (11) 2649 7952, todas as quintas-feiras, a partir das 20.30, mediante reserva

[Uma das sobremesas servidas na degustação, à base de frutas nordestinas (foto direitos reservados)]

Ritz Iguatemi
[Ritz Iguatemi (foto de divulgação)]

Há anos, sempre que estou em São Paulo, jantar uma noite no Ritz da Alameda Franca tornou-se parte do programação dita "não oficial". Não é sequer algo que eu premedite; simplesmente, acaba acontecendo de um jeito natural. Porque gosto de seus hambúrgueres (mais ainda dos bolinhos de arroz e do filé à milanesa), mas também acho bacana o ambiente democrático, as memórias do lugar (Caio Fernando Abreu, habitué, se não estou em erro, chegou a lançar ali um de seus livros) e o fato de ser, até hoje, um ponto onde sempre, ou quase sempre, se encontra amigos ou conhecidos — no balcão, porque esperar por mesa faz parte.
Chegou-me agora a notícia de uma nova inauguração, desta feita no piso térreo da ala mais recente do Shopping Iguatemi. Assinado pelo arquiteto André Vainer, o espaço, de 260 metros quadrados, repete imagens de marca como a porta giratória vermelha, o piso de madeira, as mesas com tampo de mármore, as cadeiras Thonet ou os sofás de couro vermelho, mas surpreende com um incrível painel de lousa verde onde o diretor do Museu da Casa Brasileira, Giancarlo Latorraca, desenhou a giz uma paisagem tipicamente paulistana.
O cardápio também é o mesmo, mas traz novidades como bruschetta de aliche com queijo de cabra e rúcula, o mini beirute, a salada grega com queijo feta ou o agnolotti de burrata com molho de tomates frescos, suco e raspas de laranja e manjericão. Este vai para a minha lista "acho que vou continuar indo no outro".
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232, com entrada independente pela R. Angelina Maffei Vitta, 200, tel. (11) 2769 6752, de seg. a sex., almoço entre as 11.45 e as 15.00 e jantar entre as 19.30 e as 00.00, sáb. e dom., entre as 12.00 e as 00.00

St. Honoré
[Chef Wagner Resende e chef pâtissière Amanda Lopes, dois sócios do St. Honoré (foto D.R.)]
Mal abriu, no começo de Maio, e já me deixou com água na boca. Em especial pelos doces e pães da chef pâtissière Amanda Lopes, ex-Brasserie e ex-Douce France, uma das sócias do St. Honoré — juntamente com o chef Wagner Resende e Ida Maria Frank, dona do Due Cuochi e do Le Marais Bistrot —, em Itaim Bibi, que apresenta-se como uma combinação de bistrô, padaria, confeitaria e loja (inclusive de vinhos).
A casa está dividida em três ambientes, com arquitetura de Ana Luíza Carvalho do Amaral, e o serviço vai do café da manhã ao jantar, contando com um menu executivo composto por duas opções. Este entra direto para a minha lista "pecado da gula".
Rua Pais de Araújo, 185, Itaim Bibi, tel. (11) 3071 2932, de seg. a sáb., entre as 8.00 e as 22.00, dom., entre as 08.00 e as 19.00

[Doce de assinatura do St. Honoré (foto de divulgação)]
[Broas de fubá do St. Honoré (foto de divulgação)]

Freddo
[Sorveteria Freddo, em Moema (foto de divulgação)]
Por anos a fio, os brasileiros cobiçaram as sorveterias Freddo — sobretudo pelo famoso sabor doce de leite —sempre que iam de visita a Buenos Aires. A rede argentina demorou, mas parece que agora, depois de começar em Brasília, vem com tudo e disposta a rápida expansão. Para já, São Paulo é a segunda cidade eleita, com uma loja em funcionamento em Moema e outra recém-inaugurada no Shopping Iguatemi, em Alphaville.
No caso da loja de Moema, com painéis de Caco Martin e Agostin Ascacibar, esta funciona como sorveteria e cafetaria (em parceria com o Octávio Café). No total, são 30 sabores a que se vão juntar, no segundo semestre, as contribuições brasileiras de brigadeiro e banana com açaí. A partir de R$8,50 o cucurucho (cone no formato de casquinha) com um sabor. Este vai para a minha lista "vou virar freguês".
Rua Normandia, 22, Moema, tel. (11) 3562 1654, de seg. a qui., entre as 10.00 e as 20.00, sex. e sáb., entre as 10.00 e as 23.00, dom., entre as 12.00 e as 22.00

[Freddo, agora também no Brasil (foto de divulgação)]

29.5.11

#roteiro rápido: bairro de pinheiros (SP) em 10 dicas

[Pinheiros, na zona oeste, é um dos bairros mais antigos de São Paulo e cresceu imenso, mas preserva ainda, em muito trechos, um ambiente familiar e tranquilo (acima: foto D.R.; abaixo: ©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Bairro nobre da zona oeste, levei um tempo para o conhecer nas minhas andanças por São Paulo, mas quando aconteceu foi paixão à primeira vista e, muito provavelmente, um amor para a vida. Acho mesmo que, se um dia tiver de fixar residência na capital paulista, Pinheiros seria, por certo, uma das minhas primeiras escolhas.

Como português, sinto familiaridade quando caminho por ali e não me são indiferentes detalhes como o fato, só para citar um exemplo, de existir uma rua chamada Lisboa, a minha cidade. 

Gosto de muitas coisas; de outras nem tanto, claro. Mas vou falar das que gosto e que passam por Pinheiros, apesar de ter crescido imenso, ainda preservar em muitos trechos aquele ar de bairro familiar e pacato; de conseguir ser sofisticado sem ser pretensioso; de possuir uma vida cultural intensa, com boas livrarias (inclusive uma Fnac) e sebos, tendo ao mesmo tempo o seu quê de boêmio graças a inúmeros restaurantes, bares e um comércio menos óbvio (lojas de vinhos, locadoras de filmes clássicos, brechós... ); de não ter perdido o costume de viver na rua, mantendo até hoje uma feira de antiguidades deliciosa (ler mais adiante); ou ainda, por conta de ficar ali a sede da Editora Abril, a maior do país, ter um contingente muito expressivo de jornalistas entre seus moradores e/ou frequentadores.

Poderia continuar, mas prefiro passar a uma lista de dez dicas que reuni sobre Pinheiros e que partilho agora. Algumas são novidades recentes, outras nem por isso, e já passaram direto à categoria de "clássicos" do bairro, mas todas, de um jeito ou de outro, valem muito a pena.

The Gourmet Tea
[The Gourmet Tea (foto de divulgação)]

Inaugurada no começo deste ano, esta casa, mistura de loja e lounge, resulta da parceria de Daniel Neuman e Leandro Toledano. Em um ambiente moderno e descolado, podemos  comprar embalagens de chás de todo o mundo, mas também os degustar (R$ 4.90 a dose de 220 ml) a solo ou acompanhados por guloseimas especialmente criadas por Rita Taraborelli.
Rua Mateus Grou, 89, tel. (11) 2691 2755

[The Gourmet Tea (foto de divulgação)] 

Las Chicas
[Las Chicas (foto de divulgação)]

Numa antiga garagem da Oscar Freire, já no bairro de Pinheiros, a chef Carla Pernambuco, do restaurante Carlota (já falei dela antes), e Carolina Brandão idealizaram uma casa aconchegante que serve, de manhã à noite, um menu de saladas e comidinhas, além de cafés e doces. 
Rua Oscar Freire, 1607, tel.: (11) 3063 0533

[Las Chicas (foto de divulgação)]

A La Garçonne
[A La Garçonne (©Lilian Knobel)]

Fábio Souza, o proprietário, quis recriar uma atmosfera das décadas de 1920 e 1930, combinando os conceitos de brechó — porque vende roupa de segunda mão, mas também nova das marcas D'Arouche, Alcides e Amigos, além dos itens de perfumaria da Farmácia Granado — e antiquário — todos os móveis e objectos expostos estão à venda.
R. João Moura, 395


[A La Garçonne (©Lilian Knobel)]

Jun Sakamoto
[Jun Sakamoto (foto D.R.)]

Mais do que um restaurante, é uma experiência, sendo, há anos, considerado um dos melhores japoneses de São Paulo. Comer ali é coisa para mais de R$150 por cabeça, mas é um privilégio sentar no balcão e aceitar as sugestões de Jun Sakamoto, que só faz as degustações de segunda a sexta,  de iguarias finas cobertas por toro (atum gordo), polvo, linguado, olhete, enguia japonesa ou ovas de peixe-voador, entre outras coisas mais ou menos inusitadas ao paladar.
Rua Lisboa, 55, tel. 3088 6019


Julice Boulangère
[Julice Boulangère (foto de divulgação)]

Outra novidade que chegou com 2011. De fora parece uma casa, e é uma casa, mas faz as vezes de padaria gourmet — com fabrico próprio de 20 tipos de pães por dia —, onde uma das melhores pedidas é tomar o café da manhã com tudo a que se tem direito (são quatro opções), em ambiente de charme rústico.
Av. Deputado Lacerda Franco, 536, tel. 3097 9144

[Julice Boulangère (foto de divulgação)]

Chicanita
[Chicanita (foto D.R.)]



A designer Andrea Bernard concebeu uma espécie de casa de bonecas, com vários tipos de propostas para presentes, embora o destaque vá para as latinhas decorativas (especialmente as vintage) e as bolsas de sua autoria, em materiais e estampas diversos.
Rua dos Pinheiros, 448 B


Italianos
[Buttina (foto D.R.)]

Pinheiros tem muitos descendentes de italianos e isso explica, em parte, o índice quase absurdo de bons restaurantes deste género por metro quadrado. À cabeça, um clássico premiadíssimo, o Buttina (rua João Moura, 976, tel. 011 3083 5991), famoso por seu quintal, jabuticabeiras e bufê de saladas e antepastos nos almoços da semana. Mas há ainda o Bráz (rua Vupabuçu, 271, tel. 011 3037-7975), das melhores pizzas da cidade, o Pastifício Primo (rua Fradique Coutinho, 211, tel. 3881 9080), com massas artesanais e tortas que dão água na boca, a Famiglia Grandi Osteria (rua Cunha Gago, 864, tel. 011 3814 1106), uma cantina familiar com um ótimo custo-benefício, ou ainda o Vinheria Percussi (rua Cônego Eugênio Leite, 523, tel. 011 3088 4920), para legítima comida siciliana.

Feira da Praça Benedito Calixto
[Feira semanal da Praça Benedito Calixto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 


São Paulo possui várias feiras tradicionais, mas esta que acontece na Praça Benedito Calixto, sempre aos sábados, entre as 9 e as 19 horas, é das minhas preferidas. Agrada-me a mistura de gente — de todas as idades, formas e orientações, mas sempre com civilidade e respeito pelo outro. Há de tudo à venda, mas sobretudo velharias, brinquedos, roupas, discos, móveis e livros. Depois, em alternativa à sua praça da alimentação, é muito gostoso esticar o passeio por um dos restaurantes e bares que foram-se instalando ao redor, caso do Consulado Mineiro. Além, claro, das atuações de chorinho à tarde.

[Feira semanal da Praça Benedito Calixto (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)] 

S'different
[S'different (©Lilian Knobel)]

Não se intimide se tiver de bater à porta para entrar. Esta foi uma das primeiras locadoras a fazer o aluguer de filmes pela Internet. Seu acervo está muito focado em filmes cult, antigos e até raros, o que faz com que sua clientela seja também muito especial. Na fachada, lê-se: "Pra quem não gosta de lugar comum". Preciso dizer mais?
Rua Artur de Azevedo, 536


Casarão do Café
[Casarão do Café (foto D.R.)]


Quem quiser matar saudades de Minas Gerais, além do já citado Consulado Mineiro, vai gostar do Casarão do Café. Perfeito para almoçar ou para um lanche a meio da tarde. Para o primeiro, aconselho suas quiches; para o segundo, um café de marca gourmet mineira. Nos acompanhamentos, hesito entre os pães de queijo (dos melhores de São Paulo) e os bolos ou doces caseiros (o bolo de fubá então...).
Rua Padre Carvalho, 46, tel (11) 3815 2794

25.5.11

#roteiro rápido: brasília em 15 clics de celular


Brasília a perder de vista, a partir do cimo da Torre da TV. Ao fundo, bem ao fundo, as torres do Congresso Nacional (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


Feirinha junto à Torre da TV (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


Feirinha junto à Torre da TV (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


Um dos candeeiros do Eixo Monumental, mas poderia ser uma flor (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


Biblioteca Nacional, Eixo Monumental (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


O Museu Nacional é uma das mais belas criações de Niemeyer (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


As curvas de Niemeyer no Eixo Monumental (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


A rampa do Museu Nacional, com a Biblioteca Nacional ao fundo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


O Eixo Monumental e a Esplanada dos Ministérios vistos do Museu Nacional (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


A rampa curvilínea do Museu Nacional, com a Biblioteca Nacional ao fundo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


A Catedral Metropolitana, e seu espelho d'água, obra maior de Niemeyer, também no Eixo Monumental (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


O topo da catedral que abre para o céu, num dia plumbeo (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


"A Justiça", de Ceschiatti, frente ao Supremo Tribunal Federal, projeto de Niemeyer, na Praça dos Três Poderes (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


Aula de pintura na Esplanada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)


O famoso Congresso Nacional (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)

22.5.11

#comidinhas: sukiyaki, programa de domingo na liberdade (SP)

[Rua Galvão Bueno, Liberdade, São Paulo (foto D.R.); abaixo: feirinha da Praça da Liberdade (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Sem me dar conta, nos últimos tempos, sempre que estou em São Paulo com amigos, mais cedo ou mais tarde, o programa repete-se. Acho mesmo que se tornou uma espécie de ritual domingueiro — um ritual tardio, acrescento, como se quer num dia de consentida, e saborosa, preguiça — e dou graças por isso.

Primeiro porque domingos, a partir do final da tarde sobretudo, não são exatamente de minha predileção; segundo porque, graças ao sukiyaki, encontrei finalmente uma razão de peso — para lá do desejo súbito de comer um legítimo Melona, o picolé coreano de-li-ci-o-so de melão que virou uma espécie de mania paulistana anos atrás — para ir até à Liberdade num domingo. 

O bairro, desde que se comemorou o centenário da imigração japonesa em 2008, melhorou em vários aspetos, mas, sejamos sinceros, continua a mesma (e não tão boa assim) bagunça de sempre. Gente a mais, vagas a menos (por isso, o metrô acaba sendo um bom recurso), lixo jogado no chão e, para quem não conhece bem, aquela dor de cabeça na hora de eleger um restaurante que valha realmente a pena.

Ainda assim, há qualquer coisa na Liberdade que me atrai. Talvez porque, como tão bem escreveu Bernardo Carvalho em  O Sol se Põe em São Paulo, "a Liberdade é um desses bairros (...) que, embora em menor escala do que nas regiões mais ricas, e por isso mesmo de um modo às vezes até simpático, ressalta no mau gosto da sua rala fantasia arquitetônica o que a cidade tem de mais pobre e de paradoxalmente mais autêntico: a vontade de passar pelo que não é".

Há coisa de dois meses, veio parar em minhas mãos uma matéria providencial do jornal O Globo em que, precisamente, se sugeria um roteiro na Liberdade seguindo as dicas de um insider, no caso o chef emergente Thiago Sakamoto, do Shaya. Lendo, confirmei coisas que já sabia, tipo as comidinhas orientais da feirinha da Praça da Liberdade ou a paragem obrigatória na padaria Itiriki (rua Galvão Bueno, 24), famosa pelos pães e doces, mas também por seus sucos. Outras desconhecia e vou deixar para testar numa próxima oportunidade (já agora, para quem quiser, a matéria se encontra online aqui).

Sem surpresa, constatei que o sukiyaki da Liberdade não aparece citado na listinha "vale a pena" de Sakamoto. Não acredito ser o caso do jovem chef de ascendência nipônica, claro, mas não é raro encontrar apreciadores de comida japonesa que nunca ouviram falar, tão pouco degustaram o sukiyaki.

[O sukiyaki é preparado na mesa, à nossa frente, pelo garçom ou pelos próprios clientes para quem seu preparo não tem mais segredos (©joão miguel simões)]

E é um prato aparentemente simples, mas, garanto, muito saboroso. A receita original remonta ao Japão medieval e rural, em que os camponeses tinham por hábito levar para o campo batatas doces que depois assavam com a ajuda de um rastelo (e sukiyaki quer dizer isso mesmo: assar com um rastelo). Com o tempo, como sempre acontece, eles foram agregando outros legumes, outros ingredientes e molhos, começando, inclusive, a utilizar as panelas de ferro na preparação do prato em datas festivas. E foi assim, parece, que o sukiyaki se tornou um prato para reafirmar laços familiares e afetivos, pois todos comiam da mesma panela.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Existem, óbvio, variações, mas, por regra, na tal panela entra filé migon fateado, folhas de acelga, cebola, moyashi (brotos de feijão), naga negui (mistura de cebolinhas), cogumelos Shiitake, itoh konhaku (macarrão de batata) e tofu; já no molho vai shoyu, saké e mirim. 

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

Na versão que costumo compartilhar com meus amigos no almoço fora de horas de domingo, o chamado sukiyaki especial, consigo distinguir pelo menos mais dois ingredientes: gema de ovo e kanikama. É um prato rápido, mas por fases — primeiro vai a carne, depois os vegetais e por ai vai — e em que boa parte do prazer está também em assistir à sua preparação na nossa frente.

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

É possível que existam outros endereços na Liberdade, mas costumo ir num velho Food Center que não tem erro, na rua da Glória. O lugar parece saído de um romance noir, com entrada por um pequeno e discreto prédio, sendo preciso depois subir por elevador até ao primeiro piso. Na sala 13, a Sukiyaki House. 

[©joão miguel simões, todos os direitos reservados]

A decoração é sem graça e clichê, como quase sempre tudo ali, mas, detalhe importante, não fazem cara feia quando chegamos para almoçar quase a meio da tarde e entre os clientes há sempre famílias inteiras de locais, o que não deve ser um mau sinal, certo?

À saída, não sobra apetite para muito mais, mas eu sempre arranjo maneira de deixar um pequeno espaço para a sobremesa, que tomo já rua. É, eu acabo não resistindo e na volta, antes de deixar a Liberdade, mato o desejo de picolé de melão. Até à próxima.

Rua da Glória, 111, sala 13, Liberdade, São Paulo, tel. (11) 3106 4067, seg., ter., qui. e sex., almoços entre as 11.30 e as 14.30 e jantares entre 18.00 e as 22.00; sáb., almoços entre as 11.30 e as 16.00 e jantares entre 18.00 e as 22.30; dom., entre as 11.30 e as 22h. Uma média de R$35 por pessoa.
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