3.9.12

#gastronomia: no ano em que se celebra o brasil em portugal, irmãos castanho recebem a visita gourmet de vítor sobral (dias 4 e 5/09) em belém e vêm até lisboa (dias 25 e 26/09) para cozinhar no belcanto de josé avillez

[Os irmãos Thiago e Felipe Castanho são os grandes anfitriões de Belém (foto de divulgação)]

Publiquei, tempos atrás, uma nota sobre o assunto na página dos blogs @ddressbook no Facebook, mas, chegados à véspera de mais esta visita gourmet a Belém do Pará e conhecido o cardápio, justifica-se que volte ao assunto com maiores pormenores.

[Vítor Sobral, entre Lisboa e São Paulo (foto de divulgação)]



E no ano em que se celebra o Brasil em Portugal, o senhor que se segue, no Remanso do Bosque dos irmãos Thiago e Felipe Castanho, é o português Vítor Sobral, chef e sócio da Tasca da Esquina em São Paulo.

Sobre o Remanso, vale a pena recordar, escrevi aqui; sobre o projeto Visita Gourmet, este começou em finais de 2011 e, desde então, os paraenses (e estrelas emergentes da gastronomia brasileira) Thiago e Felipe Castanho passaram a receber, todos os meses, um outro chef para juntos elaborarem um menu-degustação a seis mãos — entre outros, estão confirmados, até o final do ano, Alberto Landgraf, do restaurante Epice e eleito Chef Revelação pelo prêmio Veja Comer e Beber São Paulo 2011; Helena Rizzo, do Maní, considerado Restaurante do Ano pela revista Prazeres da Mesa; e ainda Alex Atala, do D.O.M., que dispensa apresentações.

[Vítor Sobral às voltas com o atum que será servido, nos dias 4 e 5, como consomé (foto de thiago castanho, todos os direitos reservados)]

Mas, amanhã, dia 4, e na quarta-feira, dia 5, pelas 21 horas, os olhos estarão em Vítor Sobral para o que promete ser um reencontro e tanto. É que, durante sua formação, Thiago Castanho chegou a estagiar na cozinha de Sobral, no restaurante de alta gastronomia Terreiro que este possuía então em Lisboa.

[A promo da Visita Gourmet de Sobral]

O menu idealizado a seis mãos (Sobral está em Belém desde o primeiro dia de setembro)  custa R$ 180 e será composto de 6 etapas: Carpaccio de Bacalhau de Cura Portuguesa, Redução de Tucupi e Tomate Confitado; Consomé de Atum, Aviú, Açaí Branco, Jambú e Coentros; Lombo de Bacalhau Confitado, Vieiras, Espargos Verdes e Espinafres; Cordeiro e carne de Sol, Cogumelos, Pupunha e Farofa de hortelã; Shot de bacuri e Sorvete de Vinho do Porto Seco; Pudim de Abade de Priscos, Azeitonas e Sopa Fria de Tomate e Maracujá.

[Thiago Castanho no Remanso do Bosque, em Belém (foto de divulgação)]

Mas não é só. Em breve será a vez dos irmãos Castanho cruzarem o Atlântico para participar no Festival Gastronômico que está decorrendo em Lisboa a pretexto do Ano do Brasil em Portugal. São muitos os eventos previstos para 2012 e 2013 (a programação pode ser consultada aqui), mas sobre a visita de Thiago e Felipe, cuja escolha se deve à jornalista e crítica gastronômica Luciana Fróes do jornal O Globo, eles deverão ficar uma semana em Portugal para desenvolver um menu que será depois apresentado, nos dias 25 e 26 de setembro, no restaurante Belcanto do chef José Avillez


Sobre este último, acrescento apenas por agora que, após ter conquistado uma estrela Michelin quando estava à frente do restaurante Tavares, também em Lisboa, abriu o Cantinho, mais informal, e o Belcanto, alta gastronomia, no bairro lisboeta do Chiado. Admirador de Ferran Adrià, com quem estagiou por um período curto, Avillez vai além da cozinha tecnoemocional e foi um dos cicerones de Anthony Bourdain quando este gravou um dos últimos episódios de No Reservations na capital portuguesa (vide acima).

30.8.12

#gastronomia: outstanding in the field, que é como quem diz banquetes a céu aberto estão de volta ao brasil

[Roberta Sudbrack, a mais nova banqueteira? (foto com direitos reservados)]

Dias atrás, através da rede social que permite compartilhar imagens, o Instagram, a chef Roberta Sudbrack, presença hiperativa na comunidade virtual, começou dando umas pistas do que está para vir.

[©roberta sudbrack]

Primeiro publicou a foto acima e, mesmo sem revelar onde se encontrava, foi logo adiantando que estava no terreno, pesquisando o lugar certo para mais uma edição do projeto Outstanding in the Field (assim uma espécie de banquete a céu aberto) em solo brasileiro.

[©roberta sudbrack]

Depois, em nova imagem, deixou claro que tinha feito uma incursão nos domínios da noz macadâmia...

Mistério resolvido, pois o caderno Comida do jornal Folha de S. Paulo já tratou de colocar tudo em pratos limpos.

[Vista aérea da Fazenda Santa Marta (foto de divulgação)]

Roberta Sudbrack, porventura a chef mais celebrada do Rio de Janeiro, vai mesmo ser uma das anfitriãs de um banquete a céu aberto para 120 pessoas, a 22 de setembro, na Fazenda Santa Marta, no município de Piraí (RJ). Não por acaso, é ali que a Tribeca, empresa que atua no negócio da macadâmia, tem sua sede sob a bandeira da sustentabilidade.

[Os locais variam, mas a ideia é ter sempre uma longa mesa a céu aberto e um ou mais chefs a preparar o banquete (foto de divulgação)]

A ideia do Outstanding in the Field, é bom dizê-lo, surgiu em 1999 pela mão do chef norte-americano Jim Denevan e já esteve em território brasileiro em março e junho. 

[A promo da Gastronomade Brasil]

Neste repeteco, a iniciativa ao abrigo da Gastronomade Brasil planejou, além de Roberta Sudbrack, mas dois outros eventos, também em setembro, mas no Rio Grande do Sul (o chef Carlos Kristensen será mais uma vez o escolhido e o banquete terá lugar na Vinícola Luiz Argenta) e em São Paulo (mais um retorno, o de Alex Caputo, tendo sido o Mercado Municipal o local eleito).

A venda dos ingressos faz-se em três lotes (os mais baratos já estão esgotados nos três casos), sendo que o preço por pessoa varia entre R$ 360 e R$ 470.


Rio de Janeiro
Data: 22 de setembro de 2012, 13h
Local: Fazenda Santa Marta - Tribeca
Endereço: Estrada Piraí-Pinheiral, km 10,5/11, Piraí, Rio de Janeiro
Chef Roberta Sudbrack

Data: 23 de setembro de 2012, 13h
Local: Vinícola Luiz Argenta
Endereço: av. 25 de julho, 700, Flores da Cunha, Rio Grande do Sul
Chef Carlos Kristensen

Data: 30 de setembro de 2012, 13h
Local: Mercado Municipal de São Paulo
Endereço: rua Cantareira, 306, São Paulo, São Paulo
Chef Alex Caputo

11.8.12

#comidinhas e uns bons drinques: quando às tapas do ¡venga! se juntam os drinques do português joão eusébio e os petiscos do brasileiro rafa costa e silva

[O balcão, ou a "barra", do ¡Venga! (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Quem quiser aproveitar a Tapas Week em São Paulo, só tem até amanhã, dia 12. Trata-se de uma iniciativa do turismo espanhol, que encontrou assim uma forma mais persuasiva — honrando a velha lógica de que um Homem também se prende pelo estômago — de promover a sua gastronomia popular na capital paulista.

O evento vai na terceira edição. Entre os restaurantes participantes está o bar de tapas espanhol ¡Venga!, que, desde novembro de 2011, tomou conta de uma das esquinas mais movimentadas da Vila Madalena, a dois passos  do Astor (que, já agora, faz parte, juntamente com o Original, o Pirajá, o BottaGallo, as pizzarias Bráz e Quintal do Bráz e a Lanchonete da Cidade, do mesmo grupo).


[Uma das tapas do ¡Venga! (foto de divulgação editada por jms)]

Sucesso quase unânime no Rio, onde conta com uma unidade no Leblon e outra em Ipanema, o ¡Venga! demorou um pouco mais, até onde sei, para engrenar em São Paulo. Não tanto pelo décor, que logo impressionou pela positiva, mas mais pela relação custo-benefício das tapas — porções reduzidas com preços muito altos, reclamaram alguns.

Acredito que a casa tenha sido sensível a esses primeiros ecos, até porque seus sócios não andam nisto a passeio. O certo é que, para quem interessar, durante a Tapas Week, o ¡Venga! juntou ao seu habitual cardápio duas opções especiais de menu: o de R$ 55 dá direito a provar cinco tapas e uma sobremesa; o de R$ 62 junta à oferta uma taça de vinho.

Mas não foi este evento que me levou hoje a escrever aqui sobre o bar de tapas. Na verdade, eu andava cismado, fazia tempo, sobre o cardápio que o chef Rafa Costa e Silva criou para o ¡Venga! (disponível desde finais de maio). Quando soube que o mesmo poderia ser harmonizado com uma nova carta de drinques, bolada pelo barman português João Eusébio, não deu outra; fui até lá conferir.

[Rafa Costa e Silva, do Mugaritz para o Rio (foto de divulgação editada por jms)]

Começo por Costa e Silva. Depois de uma temporada de cinco anos no Mugaritz — nos arredores de San Sebastián (Espanha) e eleito o terceiro melhor restaurante do Mundo em 2012 (The World's 50 Best, da revista britânica "Restaurant") —, o chef carioca está de volta ao Brasil e deve inaugurar, em outubro se tudo correr como previsto, um restaurante próprio no Rio (mais propriamente em Botafogo depois de ter desistido da ideia de se fixar na Serra Fluminense).

[A gostosa costilla de cerdo de Rafa Costa e Silva (foto de divulgação editada por jms)]

Enquanto isso não acontece, e aos 33 anos, é ele quem assina um cardápio especial no ¡Venga!, onde, a par de alguns clássicos da casa repaginados, incorporou novidades inspiradas na modernidade da cozinha basca como o falso risotto (R$ 18) — massa tipo “orzo”, com jamón e parmesão —, o Pintxo Euskadi (R$ 14) — que leva alioli de ciboulette, ovo e pimiento de piquillo sobre pan frito — ou a Costilla de cerdo (R$ 20) — costela de porco caramelizada com compota de maça verde.


[Gin tônica (foto de divulgação editada por jms)]

Este último petisco foi, precisamente, um dos que provei (e mais gostei) quando ali estive. Acompanhei com um gin tônica (R$ 25) da nova carta de coquetéis. É um drinque que não passa de moda em Espanha (daí o regresso, em grande estilo, assinalado em vários endereços descolados de São Paulo) e que nesta versão do João Eusébio leva citronela (da família do capim-santo), um gomo de laranja e outro de grapefruit. No ¡Venga!, como também no Astor, detalhe importante, ele é servido em copo balão e não em copo longo como era habitual (e ainda é em muitos outros bares mundo afora).


[O português João Eusébio foi quem assinou a primeira carta de coquetéis do ¡Venga! (foto de divulgação editada por jms)]

Sobre o João, um português que vive há vários anos em Espanha, tive oportunidade de trocar algumas impressões com ele. A proposta de assinar uma carta de coquetéis espanhóis (ou de inspiração espanhola, pelo menos) surgiu em fevereiro deste ano através de um amigo comum que o colocou em contato com Fernando Kaplan, um dos sócios do ¡Venga! A partir daí foram falando por e-mail e Skype.


[A Caipiriña ¡Venga! (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

E não é que, mesmo à distância, a parceria deu certo? João, de apenas 33 anos, se formou em Portugal mas foi em Barcelona [no célebre Dry Martini] que ganhou fama como barman; depois de sair de lá, criou todo o conceito do Multis Private Club, o primeiro do género na cidade, e lançou um livro de coquetéis, "Jigg It". Hoje está diretamente ligado à Magatzem Escolà, uma das principais distribuidoras de vinhos e destilados da região da Catalunha. 


[A brandade de bacalao com a caipiriña (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

É o primeiro a confessar que, à exceção da sangria, não existe propriamente drinques cem por cento espanhóis, por isso o que fez para o ¡Venga! foi "trazer os aromas mais típicos de Espanha e fundi-los com os do Brasil, como aconteceu com a Caipiriña ¡Venga!" (R$ 18) — esta leva cachaça, Pedro Ximenez, maçã verde e limão Tahiti e, aceitando uma sugestão de quem me atendia, fiz questão de a degustar acompanhada de mais uma criação do Rafa, Brandade de Bacalao (creme de bacalhau com chips, R$ 16). Gostei da capirinha; não tanto da brandade, que achei meio sem graça (inclusive na ligação com os chips).


[El Born (foto de divulgação editada por jms)]

Para esta primeira carta exclusiva de coquetéis do ¡Venga!, João diz que apostou no equilíbrio e em produtos de ótima qualidade que fossem divertidos de misturar. Isso justifica que haja drinques pensados mais para o final da tarde — como o Rebujito (R$ 20), clássico refrescante da Andaluzia feito com Jerez Fino e refrigerante de limão, ou o Draque (R$ 18), combinação de cachaça, angostura bitter, refrigerante de limão, hortelã e limão Tahiti que terá sido levada para Cuba pelo pirata Francis Drake —, outros para serem tomados como aperitivos — como a já citada caipiriña — e ainda os que se prestam mais ao final da noite, depois do jantar — como o gin tônica.


[Granada (foto de divulgação editada por jms)]

Ao todo, entre criações próprias e releituras, João assinou nove coquetéis para o ¡Venga! Além dos que mencionei, há ainda El Born (R$ 27), que leva gin, licores de laranja e de lichia, água tônica e suco de limão siciliano; o Granada (R$ 25), feito com rum, licor de lichia e vinho Pedro Ximenez; o Madrid (R$ 27), vermute Rosso misturado com gin, bitter de laranja e licores Maraschino e de canela; o Ruzafa 
(R$ 27), suco de laranja, Bourbon e licor de amora.


[Bilbao (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não tive estômago para provar todos — nem era esse o objetivo —, mas encerrei a minha noite com o Bilbao (R$ 27), serviço em taça de coquetél e preparado com água de flor de laranjeira, sucos de limão siciliano e de cranberry, além do licor Patxarán (típico do País Basco). 


Rua Delfina, 196, Vila Madalena – São Paulo, tel. (011) 3097-9252. Aberto à seg., entre as 18.00 e a 01.00; ter. e qua., entre as 18.00 e as 02.00; qui. e sex.,  entre as 18.00 e as 03.00; sáb., entre as 12.00 e as 03.00; dom., entre as 12.00 e as 18.00.

10.8.12

#gastronomia: porque todos andam curiosos com o epice, em são paulo, até james lowe dos young turks (SP)

[Alberto Landgraf, chef do Epice (foto de divulgação editada por jms)]
Ao ritmo que abrem novos restaurantes em São Paulo, não é fácil marcar a diferença. Mais difícil ainda é não só conseguir destacar-se, como também ser apontado, por entendidos na matéria nem sempre concordantes, já como um dos melhores e mais promissores da desvairada Paulistéia.

Pois, o Epice e Alberto Landgraf conseguiram. Em pouco mais de um ano. É obra, não?

Foi o que achei, por isso aproveitei a minha passagem recente por São Paulo para ir, finalmente, conhecer seu trabalho. E uma coisa posso desde já adiantar, fiquei tão bem impressionado que a minha pena é não estar na capital paulista na próxima segunda, dia 13.

Porquê?

[A dupla britânica Young Turks, James Lowe é o da direita (foto com direitos reservados editada por jms)]


É que o Epice servirá nessa noite um jantar ainda mais especial do que o habitual, preparado a quatro mãos com o chef britânico James Lowe. E quem é James Lowe, perguntar-me-ão alguns de vocês?

Fácil. Já ouviram falar dos Young Turks? Não? Então vale a pena um pouco de pesquisa e, já agora, aproveitar a vinda do chef ao Epice, pois nos últimos tempos ele tem andado em digressão por vários pontos do mundo. Aliás, o conceito de jantares pop-up (em localizações temporárias, como aconteceu por um período no pub londrino Ten Bells) é marca registrada da dupla formada por James Lowe e Isaac McHale, responsável em parte pelo twist da nova alta gastronomia britânica.

[Landgraf e Lowe em ação na cozinha do Epice (©alberto landgraf)]

Voltando a Lowe, que passou pelo Noma (há três anos consecutivos considerado o número um do mundo pela revista "Restaurant") e foi chef executivo do St. John Bread and Wine, ele será o primeiro chef convidado por Landgraf para cozinhar no Epice. Sobre o jantar de dia 13, sabe-se que terá um custo de 165 reais por pessoa (sem bebidas, só a água está inclusa) e que o menu está sendo decidido pela dupla (aliás, Landgraf publicou em seu Instagram uma foto dos dois, que compartilho acima).


Mas e Landgraf, quem é o chef de que todos falam?

[O bar à entrada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Foi essa curiosidade que me moveu até lá, como referi no início, pelo que passo a transcrever, com algumas adaptações claro, o texto que escrevi para a edição de agosto da revista portuguesa Volta ao Mundo.

[Um ambiente a verde (foto de divulgação editada por jms)]



Alberto Landgraf, apesar do nome, nasceu no Sul do Brasil, filho de mãe japonesa e pai alemão. Em Londres e França passou pelas cozinhas estreladas de Gordon Ramsay e Pierre Gagnaire, mas, acabado de entrar nos 30 anos, houve quem achasse que ainda lhe faltava um certo borogodó.

[O polvo, um dos carros-chefe do Epice (foto de divulgação editada por jms)]

A instalação de Landgraf em São Paulo não foi fácil; demo- raram para levá-lo a sério. Mas, juntamente com dois sócios, ele teimou e abriu o pequeno Epice em abril de 2011. E começaram chovendo elogios. 

[Para abrir os trabalhos, um suco de tomate temperado (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não tanto ao espaço, que é agradável, funcional mas um tanto acanhado (o que, por outro lado, lhe tem permitido manter um padrão muito regular de qualidade), mas à sua cozinha de raiz francesa com um toque autoral (e brasileiro) e muito baseada no que há de mais fresco no mercado. 

[O couvert do Epice (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Premiado e com a cumplicidade de chefs como Atala (é vê-los trocando figurinhas em redes sociais como o Instagram...), Landgraf fez do Epice, em tempo recorde, um caso muito sério de sucesso – muitos consideram-no já um dos melhores de São Paulo –, sem descurar a relação custo-benefício. 

[A abóbora como entrada (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Além das opções à la carte, o Epice serve um menu executivo ao almoço e um menu de degustação ao jantar. Deixei este último para uma próxima oportunidade, mas no almoço também não me fiquei pela fórmula executiva e fui ao cardápio escolher o que queria naquele dia.

[A barriga de porco com grão (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

Não foi desta que comi o famoso polvo ou a tarte tatin, que tantas pessoas me recomendaram, mas, em compensação, não me arrependi com a abóbora de entrada e, como prato principal, a barriga de porco com grão. Devo dizer que tenho comido outras versões, em diferentes pontos do mundo por acaso, e, sem dúvida, a de Landgraf arrebatou-me. Carne cozinhada por horas, ela fica macia por dentro, com um toque defumado, e por fora uma pele bem sequinha e crocante. Muito, muito bom.

[Composição de pera e chocolate (©joão miguel simões, todos os direitos reservados)]

No final, para lá das mignardises, fui na composição de pera e chocolate e saí feliz da vida. Com vontade de voltar em breve. Pena que não será já no dia 13. Aproveite quem puder.

Rua Haddock Lobo, 1002, Jardim Paulista – São Paulo, tel. (011) 3062-0866

5.5.12

#comidinhas: esta madrugada (de 5 para 6), em são paulo, todos os caminhos vão dar ao minhocão, e até alex atala servirá sua galinhada (SP)


Não é todos os dias, ou melhor todos os dias e noites, que chefs do calibre de Alex Atala — para os distraídos, o seu restaurante paulistano D.O.M. acaba de ascender ao posto de quarto melhor do mundo segundo a revista britânica Restaurant — se dispõem a montar uma barraca na rua para praticar baixa gastronomia de qualidade a preços de amigo (R$ 5,00 a R$ 15,00).

Nos últimos tempos, São Paulo tem aderido a iniciativas do género, mas esta dos Chefs na Rua, ao abrigo da Virada Cultural, promete, se tudo correr como previsto, fazer história e ter continuidade. E tudo acontecerá na rua, mais precisamente em cima do viaduto Presidente Costa e Silva, o “Minhocão”.

Ao todo serão 20 chefs convidados, sendo que Alex Atala, pelo Dalva e Dito, e Erick Jacquin, pelo La Brasserie, serão uma espécie de convidados especiais para abrilhantar a abertura do evento, nesta madrugada de sábado (5) para domingo (6). À meia-noite, Atala servirá a já famosa galinhada e, às duas da manhã, Jacquin a sopa de cebola. O acesso será feito pela Rua Helvétia.

Já amanhã, domingo (6), entre as 8.00 e as 20.00, entram em cena os outros chefs, que, no comando de suas barracas, vão servir pratos emblemáticos (o acesso será feito pelas ruas Ana Cintra e Sebastião Pereira). A saber:

1- Rodrigo Oliveira
Mocotó 
Baião de Dois e Dadinho de Tapioca

2- Checho Gonzáles 
Cevicheria Gonzáles 
Choripan de sabores e molhos variados

3- Lourdes Hernández
La Cocinera Atrevida
"Tostadas (cochinita pibil e revoltijo en salsa verde) / Caldito de trasnochados / costelinhas"

4- Carlos Ribeiro
Na Cozinha 
Buraco quente de Picadinho Campeão

5- Marco Soares 
Oliva Restaurant
Espetinho de polpetini de cordeiro

6- Paula Labaki
Lena Labaki
Sanduiche de Pernil das Arábias - pão ciabatta com recheio de pernil assado com escabeche.
Sanduiche Virada Picante - pão sírio, frango defumado na serragem de goiabeira, pasta de queijo, chutney de manga e damasco picante.

7- Renato Carioni
Cosí
Hamburguer de pato com maionese trufada

8- Daniela França Pinto
Marcelino Pan Y Vino
Polenta cremosa com cogumelo crocante
Ou com ragú de linguiça de javali

9- Hugo Nascimento
Tasca da Esquina
Bolinhos de bacalhau, salada de bacalhau e grão de bico

10- Dagoberto Torres
Suri 
Ceviches y Arepas

11- Marcio Silva 
Oryza 
Arroz de carreteiro com pipoca

12- Raphael Despirite 
Marcel 
Hot dog à francesa

13- Danilo Rolim Komessu 
La Tapa Bar & Gastronomia 
Montaditos y Tapas

14- Janaina Rueda 
Bar Dona Onça 
Puchero à Love Story

15- Carol Brandão 
Las Chicas 
Trio de Guloseimas: Mini Monkey Brownie, Copinho de arroz doce com doce de leite e coco, Quindim com nozes

16- Henrique Fogaça 
Sal Gastronomia
Sanduiche de copa lombo com vinagrete de maçã, queijo meia cura

17- Benny Novak
210 Diner 
Baby Back Ribs & Sweet Corn

18- Leandro Freitas e Henry Caceres
Nakombi
Sushis e Sashimis

19- Luiz Emanuel 
Allez Allez 
Steak Tartare e batata frita

20- Heloisa Bacellar 
Lá da Venda 
O melhor pão de queijo da cidade, bolos Da Venda e café.

28.3.12

#gastronomia: pela primeira vez em sua história, o brasil a gosto, da chef Ana Luiza Trajano, dedica menu a um outro país, portugal

[Ana Luiza Trajano, do Brasil a Gosto (foto de divulgação)]

Perdi até a conta aos anos que passaram desde que tomei contato, pela primeira vez, com a cozinha da Ana Luiza Trajano, mas recordo bem que, na época, tanto a chef como o seu restaurante em São Paulo, Brasil a Gosto, eram a bola da vez e começavam a arrecadar prêmios por conta do trabalho desenvolvido em prol da gastronomia brasileira.

Com um projeto consolidado, que não se limita à cozinha e passa também por uma envolvência social e até por algum espírito de militância (no bom sentido), Ana Luiza pode não estar hoje na primeira liga dos chefs brasileiros que dão o que falar (e escrever) dentro e fora de portas, mas é-lhe reconhecida competência, pertinência e, sobretudo, o empenho que coloca na pesquisa e na elaboração de cada novo cardápio.

[Ana Luiza Trajano (foto de divulgação)]

O Acre foi o último de uma já longa lista de regiões e estados brasileiros contemplados em seus menus, mas, desde ontem,  27 de março, o Brasil a Gosto abriu uma exceção (veremos se, doravante, ela terá ou não outras réplicas) e, pela primeira vez desde que abriu portas num sobradinho charmoso da rua Professor Azevedo do Amaral (Jardim Paulistano), foi buscar inspiração além-mar; que é como quem diz Portugal.

Tendo em conta a influência da cozinha lusa no Brasil — e a chef já admitiu que ficou surpreendida por constatar como essa influência, até pela sua disseminação, é muito mais vasta do que a maioria dos brasileiros imagina —, não se trata de um desvio radical, tampouco de uma desvirtuação, à proposta inicial de Ana Luiza Trajano no comando do Brasil a Gosto.

[Ana Luiza Trajano fotografada na Tasca da Esquina lisboeta (©bella masano, todos os direitos reservados)]

E como nasceu a ideia?

Em fevereiro, Arnaldo Lorençato, em seu blog, foi dos primeiros a revelar que a chef brasileira, a convite da portuguesa Revista de Vinhos, tinha viajado até Portugal por ocasião de um jantar de premiação dos melhores vinhos. Animada, Ana Luiza aproveitou a viagem, e a companhia de Vítor Sobral (de quem tenho falado inúmeras vezes por conta da sua Tasca da Esquina em versão paulistana), para sair atrás de receitas típicas portuguesas, tentar entender um pouco melhor as influências da "terrinha" e, a partir dai, criar a sua própria leitura dos muitos pratos que degustou e que deram origem ao novo menu temporário do Brasil a Gosto.

[Vítor Sobral e Ana Luiza Trajano (com Yan Corderon e Salvatore Loi) por ocasião do lançamento do Guia Josimar Melo de Restaurantes 2012 (foto de divulgação)] 

Mais do que anfitrião, Vítor Sobral, cada vez mais um embaixador da cozinha e dos produtos portugueses no Brasil, é o parceiro de Ana Luiza nesta empreitada, pois o menu é assinado a quatro mãos. 

Sendo o Vítor natural do Alentejo — região a sul de Lisboa, conhecida por seus vinhos, azeite, doces conventuais, embutidos e, de uma forma mais geral, por uma cozinha que, pela força das circunstâncias, se veio a revelar como uma das mais criativas do país —, claro que Ana Luiza não limitou suas andanças a Lisboa e teve até direito a um almoço de família na casa do chef, onde lhe foi dada a oportunidade de provar pratos regionais como o arroz de perdiz com hortelã e espinafres ou o duo de barriga e alcatra de porco com cogumelos e cebola. Nada porém que se compare à experiência de ter testemunhado, ao vivo e a cores, o ritual da matança do porco (e quem conhece Sobral sabe que ele mete mesmo a faca e sabe, como poucos, desmanchar um bicho) e do preparo das carnes para os embutidos.

[Paleta de porco em baixa temperatura ao molho de melaço e quiabo, purê de abóbora e tangerina (foto de divulgação)]


Trajano provou um pouco de tudo, mas os doces de ovos, a carne de porco preto e a grande variedade de frutos do mar — Portugal bate-se neste momento para ver seu peixe e frutos do mar reconhecidos como os melhores do mundo — foram suas perdições.

Mas passemos ao menu propriamente dito que os preliminares já vão longos. Além de Sobral, outra parceria de peso é a do azeite português Andorinha (não por acaso o mesmo que é servido na Tasca da Esquina), usado na composição e harmonização dos pratos.

[Os bolinhos de bacalhau como petisco (foto de divulgação)]

Composto por petisco, uma entrada, duas sugestões de prato principal e uma sobremesa, o menu completo, quando harmonizado com vinhos portugueses, sai a R$ 230 por pessoa.

[sardinha portuguesa com um detalhe delicioso: a salada é servida numa lata de conserva Ramirez customizada (foto de divulgação)]

Petisco: bolinho de bacalhau (R$ 44) com o vinho Conde de Barcelos Branco 2010 (Adega Barcelos/Vinho Verde – R$ 68)
Entrada: sardinha portuguesa em salmoura com salada de legumes ao molho vinagrete de coentro e hortelã (R$ 48). 
Sugestões de prato principal: açorda de camarão (R$ 92) – prato típico da região do Alentejo a base de sopa, pão, coentro e frutos do mar como camarão e mexilhão — harmonizado com o vinho Paulo Laureano Premium Rose 2010 (Paulo Loreano/Alentejo – (R$ 70) 
ou 
Paleta de porco em baixa temperatura ao molho de melaço e quiabo, purê de abóbora e tangerina (R$ 68) com o vinho Splendidus Vitor Sobral Tinto 2009 (Paulo Laureano/Alentejo – R$ 98)
Sobremesa: Encharcada com pavê gelado de creme de nata, maracujá e suspiro (R$ 26) com o vinho Moscatel Roxo 2006 (Horácio Simões/Setúbal – R$ 30 - taça)

E quem for degustar o menu poderá ainda apreciar, no espaço do restaurante, o trabalho da designer Julia Fraia, que, inspirada nos azulejos portugueses, criou uma série de peças  reunidas na exposição “Ora Pois” — a propósito, fica o desabafo: um dia, os brasileiros ainda vão entender que esta expressão caiu em desuso e que até dói no ouvido dos portugueses que, como eu, não só nunca a usaram como nem sequer se lembram de a ter escutado...

Rua Professor Azevedo do Amaral, 70, Jardim Paulistano (SP), tel. (11) 3086-3565
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